E o Velho Chico… Como está?

E o Velho Chico… Como está?

No último dia 04 de outubro, celebramos os 522 anos da chegada dos europeus às águas do nosso amado Rio São Francisco. Este rio, conhecido pelos povos nativos como Opará (rio-mar) e Pirapitinga (peixe de casca branca), já era amplamente utilizado antes da chegada dos europeus.

Professor Wendel Mota

Com mais de 2.800 quilômetros de extensão, o Rio São Francisco forma uma bacia que ocupa mais de 640 mil km² e banha diretamente cinco estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. A bacia também abrange o estado de Goiás e o Distrito Federal. Com mais de 500 municípios e 158 afluentes às suas margens, este rio é vital para o desenvolvimento da região por onde passa, sendo fonte de renda e sobrevivência para cerca de 16 milhões de pessoas.

Apesar de sua importância inegável, o Rio São Francisco tem enfrentado uma série de desafios ao longo de seus 522 anos de história.

A exploração predatória do rio teve início no período colonial, com a implantação de lavouras de subsistência e a criação de gado. Posteriormente, passou pela fase de exploração do ouro, concentrada principalmente em seus afluentes. Atualmente, o rio sofre com a exploração intensiva da agricultura, que utiliza suas águas para irrigar extensas plantações e para despejar toneladas de agrotóxicos sem qualquer tipo de tratamento prévio.

O desmatamento, utilizado como meio para a ampliação de áreas produtivas, enfraquece o solo das suas margens, contribuindo para o processo erosivo que resulta no assoreamento do seu leito. Além disso, o desmatamento colabora para a morte das nascentes que antes contribuíam para a manutenção e fortalecimento das suas águas.

O progresso também trouxe o crescimento das cidades ribeirinhas que despejam uma grande carga esgoto in natura diretamente no leito do rio. Surpreendentemente, apenas uma cidade trata 100% do seu esgoto antes de lançá-lo no São Francisco.

Ao longo do seu curso, foram construídas várias barragens para a produção de energia elétrica, essenciais para o desenvolvimento da região e do país, mas que geram um enorme impacto ambiental. Essas barragens interrompem os ciclos naturais de cheia e a possibilidade de reprodução de várias espécies de peixes.

Por fim, a transposição desvia água do São Francisco para abastecer regiões a centenas de quilômetros de distância onde esse recurso vital é escasso. No entanto, nenhuma medida compensatória voltada para a revitalização do rio foi implementada. Isso acaba aumentando os impactos negativos causados pelas grandes obras em nosso “Velho Chico”.

Vale ressaltar que essa coluna não se opõe ao desenvolvimento da agricultura, das cidades ou da economia da região. Nossa questão é: até quando o rio aguentará tamanha degradação e descaso?

Nossa súplica é para que políticas públicas sejam implementadas com urgência, visando não apenas garantir a sobrevivência da população e o desenvolvimento da região, mas também a preservação do próprio Velho Chico.

Da forma que as coisas vêm sendo conduzidas, o destino do Rio São Francisco pode ser bastante triste. Ele pode deixar de ser o sinônimo de riqueza e fartura de uma região para ser apenas uma bela lembrança na memória da população ribeirinha.


Por Professor Wendel Mota

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